Hoje vou contar para vocês a trajetória de profissionais de várias áreas que com diversas formações acadêmicas migraram para a indústria de games e eSports. Se a reportagem – sim eu sou jornalista viu? – tiver muito likes eu farei outras nos próximos meses.
Atualizações:
Pedro Caramuru está na Meta, onde é Sales Strategy Lead EMEA & APAC, Leandro Montoya é diretor de esportes LATAM na Ubisoft.
Hoje vou contar para vocês a história da poliglota Lara Lunardi, uma jovem brasileira que há mais de dez anos mora no exterior e atualmente trabalha com eSports. Eu me encontrei com ela na Gamescom2023, em Colônia, na Alemanha, no estande da SK Gaming, organização de esports alemã onde ela trabalha como Head de Conteúdo. Sim, a mesma organização que por algum tempo abrigou outro brasileiro, o campeão de Counter Strike, Fallen.
A história começa em 2013. Bem jovem Lara fez uma viagem aos USA porque queria conhecer outras culturas. Ganhou dos pais um intercâmbio de um mês nos USA. Ela queria estudar desenvolvimento de jogos e mídias digitais, um curso que não tinha no Brasil na época. Disciplinada, gastou todo o dinheiro da viagem fazendo inscrição para as faculdades americanas.
“Eu queria apenas conseguir o curso, por isso resolvi tentar em todas as instituições que aquele dinheiro permitisse” conta Lara. Aprovada no Monte Sierra College ganhou o impulso que precisava para estudar nos EUA. Com o passar do tempo, se estabeleceu por lá e mudou para uma universidade mais renomada, a Art Institute of California, em Hollywood, onde se formou.
Como sempre acontece no mercado de games, a paixão de Lara por cosplay ajudou sua carreira. “Quando entrei na faculdade, a modelagem 3D, a criação e design de personagem, tudo isso encaixou perfeitamente com a minha paixão pelo cosplay”, diz ela, que desde os 14 anos ajudava a mãe a costurar os trajes de personagens de quadrinhos, games e filmes para ir a eventos geeks.
No primeiro emprego na Vision Entertainment, dona parcial da Echo Fox, uma organização americana de Esports, Lara produzia conteúdo e apresentava programas no Facebook. Juntando cosplay e sua experiência com vídeos, fez um piloto de um novo programa, chamado Geek’n It, onde ensinava o público a criar acessórios baseados em seus personagens favoritos. O programa teve patrocínio de algumas empresas como a Epic Games de Fortnite e o Hi-Rez Studios de Paladins entre outros. Esse período deu uma outra perspectiva para Lara que se aproximou mais de League of Legends e de suas competições.
O trabalho mais uma vez a empurrou para a frente e Lara começou a se desenvolver nos eSports, na Inven Global, agência de notícias sul coreana. O conteúdo em texto estava perdendo visibilidade e eles começaram a produzir mais vídeos, aí ela brilhou cobrindo o Worlds 2019, campeonato mundial de LOL, da Riot Games, em Paris.
Todo mundo sabe que LoL é paixão né? Foi ele que levou Lara a se mudar para a Alemanha, onde teve uma proposta da Dot Esports e finalmente chegamos à SKGaming.
Dica da Lara para quem quer trabalhar com eSports “Foco é o mais importante e dificuldades sempre vão aparecer, por isso o meu conselho é focar sempre na quest principal e tentar realizar o que você deseja. Algumas side quests vão aparecer de vez em quando, mas não deixe isso te desviar do verdadeiro objetivo”.
Eles Trabalham com Games. E você? — Versão 2018
Leandro Estevam “Montoya”, foi um dos primeiros eAtletas do Brasil. Em 2003 ele jogava no time da Intel, no World Cyber Games (WCG para os íntimos), disputando Batlefield 1942 no Intel Challenge. Para se ter uma ideia do seu pioneirismo, o divisor do e-Sports no Brasil foi a chegada da Riot, em 2012. Até hoje Leandro é mais conhecido pelo nick “Montoya” do que pelo nome de batismo, tanto no universo digital quanto entre amigos: – “Meu sobrinho de 6 anos não me conhece por Leandro, mas sim por Montoya” – brinca.
Aos 38 anos, é executivo de desenvolvimento de negócios na área do entretenimento digital e atua no escritório brasileiro do grupo francês Vivendi (Gameloft e Universal Music Group), como head de negócios para América Latina. Anteriormente passou pelo Terra Networks e TIMwe. Mas tenho outra curiosidade para contar: ele trabalhou na Monkey, uma das maiores redes de lan houses que tivemos por aqui, e depois na Mentez, que desenvolvia games para Orkut, como o famoso Colheita Feliz. Foi lá que eu o conheci. Ele era meu cliente.
Leandro é formado em História pela Universidade de São Paulo; estudou Cultura do Videogame na PUC de São Paulo e recentemente terminou o MBA em Marketing na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele deixa uma mensagem para os jovens que desejam trabalhar com jogos:
“No Brasil é mais fácil trabalhar com games se o profissional se capacitar nas áreas de administração, negócios, marketing, webdesign, gestão de comunidade e atendimento ao cliente. As oportunidades ligadas a criação são mais raras pois a maior parte das empresas mantém os estúdios fora do país”.
Ele acredita que ser gamer pode ajudar: “Certa vez disputávamos o contrato de monetização de uma empresa coreana: o páreo estava duro entre as empresas concorrentes. A nosso favor pesou o fato de eu conhecer bem alguns jogos antigos que o executivo coreano também jogava! Há uma presença global da cultura de games”.
Comprovando a primeira teoria do “Montoya”, temos dois exemplos de profissionais que fizeram cursos diferentes e construíram suas carreiras em gigantes de Games no exterior: nos Estados Unidos e na China.
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Pedro Caramuru há dois meses foi promovido a Sr Manager, Competitive Gaming de PlayStation para América do Norte, depois de trabalhar seis anos cuidando de produto e marketing de PlayStation na América Latina. Ele foi o primeiro brasileiro transferido para sede da PlayStation, em 2015.
Atualmente mora nos Estados Unidos, mas esteve em São Paulo em abril, e participou do lançamento de God of War, que contou com o evento que mais marcou a indústria de games esse ano: com direito a orquestra sinfônica e muito mais. O jogo recebeu 10/10 na maioria dos sites.
Caramuru começou sua carreira na indústria de bebidas, migrando para games em 2012. Formado em Propaganda e Marketing na ESPM com MBA na FGV, ele estudou em Berkeley, em 2016.
Outro caso de sucesso no exterior, Henrique Campolina, mudou-se de Minas Gerais para a China há dez anos e hoje trabalha na maior empresa de games voltados para o e-Sport do planeta, a Tencent. Antes dos games, por seis anos Henrique trabalhou intermediando negócios entre Brasil e China, com ações com o Governo Brasileiro inclusive.
Estava insatisfeito quando surgiu a oportunidade de transformar seu hobby em trabalho. Aplicou os conhecimentos em marketing e negócios, estudou o mercado de games, onde ocupou as posições de gerente de marketing, community manager e game designer. Há dois meses é gerente de operações da Tencent, dona da RIOT, SuperCell, Epic Games, publisher do PUBG e Arena of Valor.
Campolina graduou-se em Relações Internacionais no Brasil na China conseguiu uma bolsa de estudos e fez dois anos de Mandarim na Beijing Internacional Studies University. Se ele é fluente em Chinês? Claro!!!
Ninguém melhor que o “tio” para comprovar a segunda teoria do “Montoya”. Pioneiro do YouTube, quando começou a jogar videogame para desestressar da faculdade, o influenciador Zangado não podia imaginar que se tornaria uma autoridade no assunto. Oito anos depois, reconhecido como um dos mais respeitados influenciadores de games do Brasil, ele reúne 4 milhões de seguidores no canal do Youtube Zangado Games.
Em todas as redes sociais soma 8 milhões de fãs. É tanta gente que há dois meses Zangado voltou a fazer lives, para poder interagir com seu público. Mesmo assim, levou 1.800 simultâneos para o streaming do Homem Aranha.
Quem quiser relembrar os tempos de câmera, pode encontrá-lo ao vivo no Facebook. As lives acontecem de domingo a quinta, das 22 horas à meia noite. Lá joga com os fãs, responde perguntas, fala sobre cultura geek, mostra filmes e livros que lhe agradam. Ampliando seu portifólio, há dois anos ele começou a dublar. Como ainda está estudando para tirar o registro, fez pequenas pontas em Gears of War, da Microsoft, e o Dragão Malefor da série de TV Skylanders Academy, produzida pela Activision a Netflix.
Thiago Silva estudou Engenharia Civil em Cuiabá, sua cidade natal, onde mora até hoje. É tudo o que se sabe sobre ele que preserva sua identidade com uma máscara.
Gamer desde sempre, Guilherme Almeida, diretor da Seeds Market Research, trabalhou 13 anos na GfK, uma empresa que é referência global em pesquisas. No ano passado, somando 15 anos de experiência em pesquisa de mercado de hábitos de consumo nas mais diversas áreas, decidiu ter seu próprio negócio e associou-se a um amigo que tinha recém-criado a Seeds. Já que era para empreender por que não atuar em uma área que ama e entende muito? Sim games. Os dois são gamers daqueles que zeram os jogos fazendo todas as secundárias! e estão atualmente trabalhando na primeira pesquisa feita na América Latina para revelar os hábitos de consumo dos gamers locais. O estudo será lançado em breve em Português e Inglês. Almeida estudou Propaganda e Marketing na ESPM e recentemente fez MBA em Business Intelligence, na FIA/USP.
Ele está à frente da primeira pesquisa de LATAM de hábitos de consumo dos gamers. Outra oportunidade é quando uma empresa estrangeira precisa ter um profissional que entenda do assunto aqui para expandir seus negócios. Ricardo Filó é country marketing manager da Logitech no Brasil há cinco anos, e trabalha lá há sete. Ele aproveitou a experiência adquirida como gerente de produtos da Sony e de PlayStation, para transformar a Logitech em referência em acessórios para gamers e mais recentemente em e-Sports.
Filó inseriu a Logitech no e-Sport nacional. Há três anos, ele comanda as ações de e-Sports da gigante Suíça por aqui, promovendo campeonatos, como o Logitech G Challenge e patrocinando equipes e eventos. O INTZ e-Sports Club, tri campeão de CBLoL, leva a marca Logitech G na sua camisa. Este ano, a Logitech fará sua estreia na Brasil Game Show, onde ocorrerão as finais do G Challenge LATAM, que vai agitar os quatro dias do evento.
Filó é engenheiro mecatrônico, com pós-graduação em Marketing na FAAP e curso de extensão em Administração Estratégica pela FGV e, na minha opinião, um dos profissionais mais estratégicos do mercado de Games brasileiro.
Além do Zangado, temos outro engenheiro, um advogado, um ator atuando no esporte eletrônico. Leonardo Di Prado, CEO da Select e-Sports, é um empreendedor por natureza. Trabalhou como engenheiro por sete anos, e recentemente resolveu mudar de área. Depois de visitar a Brasil Game Show (BGS), em 2016, e ter seu primeiro contato com o esporte eletrônico percebeu que poderia usar suas habilidades para atuar no e-Sport no Brasil.
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Di Prado já de início foi bem sucedido. Como vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Team One, viu seu primeiro time de League of Legends conquistar o CBLoL logo na estreia. Para quem não se lembra, a Team One era aquela equipe dos garotos tímidos de Goiás, sem nenhuma estrela em sua line-up, e logo no primeiro ano de vida sagrou-se campeã do torneio mais importante que temos por aqui: o CBLoL, derrotando a tradicional PaiN Gaming, e representando o Brasil no mundial da Coréia do Sul. Hoje a Team One tem patrocínio da Dell e da HyperX, e seu time de CS:GO joga nos Estados Unidos.
Pois é. O gostinho da vitória encantou o Engenheiro Agrônomo que em dezembro mudou-se de Goiás para São Paulo e agora está à frente do Santos e-Sports. Time do qual, eu garanto, vocês vão ouvir falar muito ainda!
Marcelo Fadul, outro empreendedor, é o criador da equipe que se transformou no Netshoes e-Sports e vem disputando FIFA em campeonatos nacionais e lá fora. Além de administrar o time, ele dirige a e-SportsFlix, empresa que opera uma das maiores plataformas de campeonatos online de futebol virtual, e a responsável pela transferência de Rafael “rafifa13” Salles Leite Fortes para o Paris Saint Germain. Trata-se de um dos maiores e mais conhecidos jogadores de FIFA no Brasil, foi o primeiro brasileiro a defender um clube de futebol europeu no universo do esporte eletrônico.
Formado em Comércio Exterior pela Universidade de Franca, cidade do interior de São Paulo, e depois graduado em Direito, o projeto era ser um advogado que atuasse em Direito Internacional. Fadul começou no esporte tradicional, por acaso. Em 2012 arrumou um estágio em um escritório de Direito Desportivo e ajudou a cuidar de processos de jogadores que idolatrava. Em 2015, passou a atender a clubes de futebol do interior paulista. Percebeu o crescimento do e-Sport. Foi visionário e montou um time, que veio a ser adquirido o naming rights pela Netshoes.
E por último, mas não menos importante, um ator. Ricardo Juarez, a voz brasileira de ninguém menos que Kratos, o God of War, é dublador profissional há 26 anos e só há cinco trabalha para a indústria de games. As primeiras dublagens foram Draven, Hecarin (ambos personagens de LoL) e Kratos – para God of War Ascension.
Qual será o próximo personagem? Paraense residindo no Rio de Janeiro, ele é ator, dublador e locutor e ganhou notoriedade ao dublar o personagem Johnny Bravo, em 1996. Dublou também a girafa Melman na franquia Madagascar e o ator Will Ferrell em vários de seus filmes.
Hoje ele trabalha na TV Globo e não preciso dizer que ele arrasou no Kratos do último God of War, né? Isso não é novidade, mas que sua voz estará em Assassin’s Creed pouca gente sabe. Qual personagem? Arrisca um palpite, quem sabe você acerta.
